Page 8 - Boletim numero 255 da APE
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 Cultura e ConheCimento
exoplanetas ganham Nobel
 dEa Física 2019
Alexandre Correia*
            xoplanetas, também conhecidos por planetas extra- -solares, são planetas que orbitam em torno de uma estrela diferente do Sol (ver Boletim #234). O prémio
científico e mediático do trabalho desenvolvido a equipa foi crescendo, sendo hoje a grande referência a nível mundial nesta área. Michel Mayor, agora com 77 anos, é uma pessoa extremamente afável, que sempre teve a preocupação de integrar os novos colaboradores. Mais do que a descoberta sensacional de 1995, soube aproveitar a oportunidade para desenvolver uma linha de investigação completamente nova. O seu sonho, partilhado por todos nós, é que possa- mos um dia encontrar planetas parecidos com a Terra, que possam albergar vida.
A descoberta de novos planetas teve impacto em diver- sas áreas científicas, e não só na deteção per si. Muitos sis- temas apresentam planetas em órbitas totalmente diferen- tes dos do Sistema Solar. Tal como 51-Pegasi, temos planetas gigantes a orbitar muito próximo da estrela. Temos ainda planetas em órbitas muito excêntricas e inclinadas (como cometas) ou planetas em órbitas compactas, muito próxi- mas umas das outras. Para tentar compreender toda esta diversidade, como estes planetas se formaram ou como evoluíram, muitos cientistas com formação em outras áreas, tão diversas como a matemática, biologia, química, meteo- rologia ou geofísica, passaram a interessar-se pelo estudo destes novos mundos.
Cerca de 24 anos após a descoberta de 51-Pegasi, são já conhecidos mais de 4000 planetas em torno de mais de 3000 estrelas diferentes. É possível afirmar hoje que quase todas as estrelas deverão possuir planetas. No entanto, as técnicas de deteção atuais ainda só permitem encontrar planetas maiores que a Terra e/ou que orbitam mais próxi- mo da sua estrela que a Terra do Sol. Por essa razão, infeliz- mente ainda não fomos capazes de encontrar um planeta irmão-gémeo do nosso. Os cientistas e engenheiros conti- nuam a trabalhar no sentido de melhorar os instrumentos de deteção com vista a esse objetivo. Portugal está envolvi- do na construção e operação de alguns desses novos equi- pamentos. Espera-se que em breve sejamos finalmente ca- pazes de encontrar as tão almejadas novas Terras!
(*) Alexandre C. M. Correia
Professor Associado – Departamento de Física – FCTuC
Grau: – universidade de Lisboa 1997: “Licenciatura” (B.Sc) em Física;
– universidade de Paris VII / Observatório de Paris, 1998: “DEA” (M.Sc) – Astrofisica;
– universidade de Paris VII / Observatório de Paris, 2001: PhD – Di- nâmica do Sistema Solar;
– universidade de Genova / Observatório de Genebra, 2003: Pós- -doutoramento – Exoplanets;
– universidade de Aveiro, 2014, “Agregação” (habilitação) em Física.
(Dep. Física univ. Coimbra)
    Nobel da Física deste ano foi concedido a Michel Mayor e Didier queloz (astrónomos do Observatório de Genebra) pela descoberta do primeiro planeta deste tipo. Em 1995, estes dois astrónomos conseguiram detetar um planeta com cerca de metade do tamanho de Júpiter em torno de uma estrela muito parecida com o nosso Sol, de nome 51-Pegasi. Este planeta completa uma órbita em torno de 51-Pegasi em apenas quatro dias, o que contrasta com os 12 anos que Júpiter demora em torno do Sol. A sua existência surpreendeu todos os cientistas e levantou um sem número de novas questões sobre a formação dos planetas.
  Fotos dos fisicos Michel Mayor e Didier Queloz
Ainda hoje não existe nenhuma imagem do planeta em torno de 51-Pegasi. A sua presença foi confirmada através do efeito de Doppler, uma técnica indireta que permite me- dir variações da velocidade da estrela induzidas pela gravi- dade do planeta. Esta técnica já era usada anteriormente para estudar estrelas binárias, mas o sinal produzido por um planeta é muito mais fraco e difícil de ser detetado. No en- tanto, em 1993 foi desenvolvido um espectrógrafo de alta precisão, de nome ELODIE (instalado no Observatório de haute-Provence, em França) que permitiu ter a precisão ne- cessária para alcançar este feito.
Entre 2003 e 2004, tive oportunidade de trabalhar como investigador no Observatório de Genebra, integrado na equipa de Michael Mayor. Na altura era ainda uma pequena equipa, que trabalhava arduamente na procura de novos planetas e na construção de equipamentos de deteção cada vez melhores. Tive o prazer de me ver envolvido em algu- mas destas descobertas, em particular em sistemas com mais do que um planeta (multi-planetários). Com o impacto
    6 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • outubro a dezembro














































































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