Page 12 - Boletim numero 256 da APE
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  HISTóRIAS à LUPA
Guerra Colonial – Pupilos do Exército
        António Ribeiro da Silva
19600093
Segui de perto os interessantes textos que o Luís Fraga (19540282) recentemente escreveu na sua página no facebook sobre a temática da Guerra Colonial e que espe- ro venham a ser vertidos em livro a publicar quanto antes.
O desassossego que eles me causaram, levaram-me reflectir no impacto directo que os efeitos que a Guerra Colonial teve na nossa Escola, bem como no resultado da sua acção ou omissão.
O Instituto dos Pupilos do Exército, escola republicana, sur- ge em 25 de Maio de 1911 para intervir na educação de “filhos da família militar” formando “homens que pelo trabalho e es- forço próprios se mantenham na vida com independência e dignidade: é preciso formar cidadãos uteis à Pátria” tal como define o seu decreto fundacional.
A Guerra Colonial – que durou a eternidade que os políticos de então cegamente conduziram (1961-1974) – tornou mais premente o apoio à família militar, em função das prolongadas e repetidas ausências dos pais que nela participaram.
Dada a presença significativa de candidatos ali deslocados, anos houve em que os exames de admissão aos Pupilos chega- ram mesmo a ser feitos em Angola, no RIL /Grafanil – Luanda, como aconteceu por exemplo em 1970 (Carlos Fonseca – 19700133 e Luís Rapoula – 19700223) e muitos outros no ano de 1973, nomeadamente: 19730190 – Fernando Neiva (Energia e Sistemas de Potência – 1984), 19730262 – António Santos (Energia e Sistemas de Potência – 1984) e 19730081 – Eduardo Rosa (Contabilidade e Administração – 1984).
Transcrevo de seguida um excerto do texto da autoria do acima mencionado António Santos, aquando da comemoração dos 45 anos da sua entrada no Pilão, que bem ilustram:
“Portanto, sem sabermos, éramos os filhos de uma guerra. Eu não me posso queixar muito, tive a sorte de em 1973 vir com o meu pai para Lisboa. Ainda assim, com certeza que o meu pai poderia ter sido outro, com muito mais tempo para tratar do seu afecto para comigo, e que falta dele que ainda hoje tenho. Mas, pior, muitos de nós, os órfãos do colonialismo, deixaram os pais por entre as memórias vedadas pelos capins queimados das guerrilhas cruéis entre os militares e os terroristas (era assim que chamavam os outros, os de lá da barricada). Como qualquer guerra, o fumo é sempre fedorento e não escolhe ventos.
....
Para muitos, a nossa escola foi o pai, foi mãe e o professor, e tudo isto em simultâneo. Uma coisa quase sobrenatural para uma pessoa só.
Por isso, trazemos ao peito a Barretina, como reflexo de gratidão por tudo o que ela nos deu. Não há escola igual àque- la, àquela daquele tempo.”
Depois do 25 de Abril, finda a guerra, a nossa Escola conti- nuou a receber os filhos de militares que nela participaram, al- guns deles órfãos, como nomeadamente sucedeu com filhos de antigos combatentes do exército português que foram fuzi- lados na Guiné – Bissau após a independência, como os irmãos SAIEGH, que no IPE concluíram os seus Cursos Superiores de Engenharia de Máquinas.
A crueldade dessa guerra provocou muitos outros danos, que nalguns casos o IPE ajudou a minorar, como aconteceu com o Pedro Luqueia de Santarém (19670010), natural do uíge, que perdeu a família, e concluiu o Bacharelato em Engenharia de Máquinas – 1976, de seguida Licenciado em Engenharia Mecânica no IST e que depois fez carreira como Técnico Supe- rior de uma autarquia da margem sul.
Finda a guerra colonial, com o advento das independências, ingressaram nos Pupilos 39 alunos provenientes dos PALOPs, ao abrigo da cooperação técnico-militar, maioritariamente oriundos de Angola e Moçambique, mas cobrindo todo o es- pectro dos novos países. Alguns tiveram grande relevância na estrutura interna do Batalhão Escolar, como foi ao caso de:
• 20070801 – Rachid Rocha Pachire – 12o ano – Técnico Ma- nutenção Industrial Electromecânica, natural de São Tomé e Príncipe, que foi Comandante de Batalhão em 2013/14;
• 19960816 – Abdel Taborda Camará – Bach Engenharia Mecânica – 2008, natural da Guiné-Bissau, que foi Adjun- to do Cmdt Batalhão em 2007/08.
Muitos deles concluíram os seus cursos e dois deles são ofi- ciais de Administração Militar nas Forças Armadas de Angola, depois de passarem pela Academia Militar Portuguesa: Carlos Espírito Santo Pereira (19980810) e Amândio Pinheiro da Silva (19980822).
Concluída a cooperação militar, dezenas de outros alunos provenientes dos PALOPs continuaram e continuam a ingressar nos Pupilos, alguns dos quais foram alunos graduados, nomea- damente 3 de alta patente (Comandantes de Companhia).
Neste momento o Batalhão Escolar conta com 20 alunos de Angola, 1 de Moçambique e 1 da Guiné.
Centenas de ex-alunos foram chamados às fileiras e partici- param na guerra, quer na frente de combate, quer na logística e nos serviços, tendo alguns deles lá falecido, como foi o caso de 19550163 – Jorge Pedro Couto (Moçambique 1965); 19570429 – António Pinto Sancho (Angola 1965) e 19590217 – Victor Ferreira de Campos (Angola 1973) e outros ficaram fisi- camente diminuídos como foi o caso do 19490379 – Rui Amaro Baptista (Angola 1963).
A grande rotatividade dos oficiais nos Pupilos, onde nem sempre chegavam nas melhores condições psicológicas após o desgaste de cada comissão, pode ter afastado alguns Pilões das Academias Militares (sobretudo quando conjugado com a eterni- zação da Guerra). Creio que foi esse o meu caso, pois entrei para o IPE dizendo ao meu pai que queria ser “tenente”, o que, cons- tato agora, acabei por ser, mas miliciano e na disponibilidade.
         10 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • janeiro a março
Foto de Rogério Pereira









































































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