Page 12 - Boletim numero 258 da APE
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 CARAS DO PILÃO
  móvel atrás de si, estava também o Pilão, quem por ali pas- sasse, não iria ter qualquer dúvida que o Padre Luís Cláudio Santos era um Pilão. Acho que me senti melhor e sentei-me mais confortavelmente na cadeira.
Pousei a minha máquina fotográfica, a Ana informou o Luís Cláudio que iríamos gravar a conversa e que também iríamos tirar umas fotos, ele que ignorasse a máquina, e que provavelmente lhe iríamos pedir que tirasse a máscara, nós manteríamos a nossa.
O Luís Cláudio nasceu em 27 de novembro de 1958, a sua terra (as berças como tantas vezes faz referência na conversa) é Almeida (zona da Guarda).
Filho de militar, e de uma mãe religiosa que estudou nas Salesianas, tendo como diretores espirituais os Jesuí- tas, algo que só entendeu mais tarde já adulto. Eram três irmãos, e ele era o mais novo.
Conta-nos que antes do 25 de Abril o ensino não era “de- mocrático”, não havia escolas em todas as vilas, havia os li- ceus nas capitais de distrito (no caso deles seria na Guarda) e também alguns colégios privados que na altura eram curiosamente orientados por padres.
O Irmão mais velho tentou entrar no IPE, mas reprovou porque lhe detetaram falta de vista e foi então estudar para o lar de sargentos que existia em Oeiras.
A irmã entrou para o Instituto de Odivelas, onde nessa altura era Diretora a Sra. D. Deolinda Santos e a Sub-Diretora a Sra. D. Ofélia Sena Martins. A mãe criou desde logo fortes laços de amizade com a Diretora e a Sub-Diretora (que era madrinha da irmã), e ele lembra-se desde sempre de ter sido muito bem tratado quer pela Deolinda Santos, quer pela Ofélia Martins, foi sempre amigo de ambas desde garoto. Conta-nos que a Deolinda Santos, quando ele começou a celebrar, mandou ela celebrar 30 missas em Fátima para o bom sucesso do seu Ministério Sacerdotal, só soube do facto porque foi um colega que o informou que ia celebrar as mis- sas por ele. Também não faltaram à sua “missa nova”, nem elas, nem o Pilão, que levou uma camioneta cheia de pessoal do IPE, funcionários, professores etc, etc até Almeida.
Diz-nos que o apreço que a Deolinda Santos tinha por ele, chegou-o a deixar, a uma determinada altura, constran- gido, quando convidado (ainda aluno) para um 14 janeiro, em que ele estava na fila da frente e o diretor do IPE na fila de trás a assistir à cerimónia.
Foi ao funeral da Sra.D. Deolinda, infelizmente, lamenta não ter sabido quando faleceu a Sra.D. Ofélia Martins.
Assim a hipótese de ir para os Pupilos do Exército cimen- tou-se, os pais assim decidiram e nessa altura o que os pais decidiam era para cumprir.
Com 10 anos, vindo das berças (como nos refere) entra para o IPE com o número 1969272, não conhecia nada, nem ninguém, mas conta-nos que entrou com o pé direito naquela casa.
Não é que não sentisse saudades dos pais, da terra, dos irmãos, que não tivesse derramado lágrimas de saudades, mas rapidamente as mesmas secaram, com o carinho e o acolhimento que teve por parte do pessoal (primeiro o civil e depois o militar).
Almeida era muito longe, e era impossível ir a casa nos fins-de-semana, pelo tempo da viagem que na altura era muito longo, e também porque a vida era difícil e todos os “tostões” eram contados e poupados, um bilhete de com- boio era caro. Assim apenas ia nas férias.
Por isso o acolhimento que teve no IPE por parte do pes- soal (funcionários), foi sentido por si como se fosse a sua segunda família, a família de Lisboa.
Continua a repetir que foi um sortudo, não sabe porquê, mas o pessoal da rouparia, encantou-se por ele. Passava fins-de-semana com eles, levavam-no a passear, até os bo- los que faziam em casa para os filhos eram partilhados. Também durante a semana era muitas vezes premiado com um bolo e conta-nos que lhe chegaram a fazer lanches para as viagens que fazia até casa.
Não se esquece da Lisete (da rouparia) a “Chinesa”, que o tratou sempre como um filho, aliás ela dizia muitas vezes que nunca mais se queria apegar a nenhum outro garoto. quando faleceu, um filho da Lisete procurou-o, disse-lhe que a mãe falava sempre muito dele e que dizia que ele era padre, foi ele que fez o funeral da Lisete.
quantos aos colegas, as coisas também correram bas- tante bem, nunca sofreu grandes praxes até porque estava sob o manto da proteção da sua segunda família no IPE. Mas claro que os tempos eram outros, e quando mais novo, aos fins-de-semana, nem sempre conseguia escapar às “brinca- deiras” dos mais velhos, diz-nos que eles (os mais novos) andavam sempre “fugidos” e a evitar terem que se atraves- sar à frente deles. Ainda hoje tem grandes amigos dos que lá ficavam com ele no fim-de-semana.
Agora já sem máscara a nosso pedido, começamos a ver o Luís Cláudio a desfiar as memórias do IPE enquanto aluno, os olhos brilhavam, contorcia-se de riso e gargalhadas, en- quanto nos ia contando algumas das suas peripécias. Algu- mas vão ficar naquela sala entre as gargalhadas dos três, como aquela vez que eles descobriram o que era a engenha- ria financeira, e também as corridas periclitantes na igreja (a maioria saberá a que nos referimos) ...
Conta-nos que talvez a mais divertida de todas, fossem as incursões à capela dos ossos. No seu livro de finalistas ele e mais quatro tem lá registado para a posteridade (quase uma menção honrosa desses tempos) “Os fantasmas dos ossos”. A cripta era o lugar (cenário) perfeito, na altura exis-
10 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • julho a setembro














































































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