Page 14 - Boletim numero 260 da APE
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CULTURA E CONHECIMENTO BOLETIM APE | JAN/MAR 2021 Observatório SKA
   Alexandre Correia
Dep. Física Univ. Coimbra
   No passado dia 4 de fevereiro foi oficialmente criado o Observatório Square Kilometer Array (SKAO), uma or- ganização científica internacional que tem por objeti-
vo principal a construção e exploração do observatório com o mesmo nome (https://www.skaobservatory.org/). Este observatório consiste num conjunto muito grande de ante- nas de rádio que serão ligadas entre si e funcionarão como uma única antena gigantesca, do tamanho da Terra, usando uma técnica conhecida por interferometria. Vai somar milha- res de antenas parabólicas e um milhão de antenas dipolo, às quais se irão juntar ainda antenas de frequência média. Será assim o maior telescópio jamais construído.
Como o próprio nome indica, este novo observatório terá dimensões superiores a um quilómetro quadrado, que na rea- lidade será muito mais do que isso, pois será instalado em dois locais distintos do planeta: uma parte na Austrália e outra na África Austral, inicialmente apenas na África do Sul, mas pos- teriormente será expandido mais parta norte, podendo ter ramificações em Angola e Moçambique (entre outros países).
Portugal encontra-se entre os seis países fundadores do SKAO, juntamente com o Reino Unido (onde ficará a sede), África do Sul e Austrália (onde será contruído o observató- rio), e ainda os Países Baixos e Itália. Muito outros países se mostraram já igualmente interessados em participar e espe-
ra-se que formalizem a sua adesão em breve, tais como a Chi- na, a Índia, o Canadá, a Alemanha, a França ou a Espanha.
O nosso país é igualmente membro de outras organiza- ções científicos internacionais, como por exemplo o CERN (acelerador de partículas) ou a ESA (agência espacial euro- peia), mas é a primeira vez que participa na criação de uma instituição desta dimensão. Este não é um detalhe sem im- portância. Por um lado, demonstra que Portugal atingiu já a maturidade científica necessária para um desafio desta en- vergadura. Por outro, significa que as empresas portuguesas poderão participar na construção de todo o equipamento e infraestruturas. São dezenas de milhões de euros de retorno industrial em perspetiva e a possibilidade de criação de diver- sos postos de trabalho altamente qualificado.
A construção do SKAO está prevista começar em 2023 e a fase inicial concluída em 2030. As primeiras observações são esperadas para 2027. Quando estiver totalmente operacio- nal, este observatório conseguirá aumentar o ritmo de ob- servação do Universo em 10 mil vezes, com uma sensibilida- de 50 vezes superior à atual. Será por isso gerado um número de dados gigantesco, o que coloca igualmente desafios para o seu tratamento, armazenamento e transmissão, equivalen- te a todo o tráfico global da internet no ano de 2013!
O retorno científico do SKAO é incalculável, pois seremos capazes de estudar fenómenos até aqui impossíveis de obser- var. Em particular, espera-se conseguir vislumbrar os primór- dios do Universo, apenas 300 mil anos após o Big Bang. Pode- remos ainda fazer testes à teoria da relatividade geral em situações extremas (ver Boletim #220), tentar medir os efeitos da matéria e da energia escura, mapear biliões de novas galá- xias, e até procurar por vida extraterrestre. Com efeito, o SKAO terá capacidade para detetar moléculas orgânicas com- plexas através das suas transições atómicas. Em teoria, é até possível detetar sinais de radar emitidos pelos aeroportos de civilizações existentes na nossa galáxia, caso elas existam!
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