Page 13 - Boletim numero 261 da APE
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BOLETIM APE | ABR/JUN 2021
CULTURA E CONHECIMENTO
 cidades em que as taxas da infeção estão a diminuir pelo comportamento adequado das populações e na eficácia de- monstrada das vacinas. Todas são possibilidades mais benéfi- cas e realistas. Estar concentrado nelas leva a atividade men- tal ajustada, a uma diminuição dos sentimentos de apreensão e medo, e a um funcionamento psicológico saudável.
O outro componente é o comportamento e claro que este, tal como o pensamento, depende do controlo voluntá- rio. Ficar paralisado, evitar ou fazer verificações excessivas aumentam o medo. Ao contrário, seguir as orientações das autoridades, como a Direção Geral da Saúde ou Organização Mundial da Saúde, e manter, dentro do possível, rotinas que preencham o tempo e deem algum significado ao que se está a fazer. Por exemplo, contactar os amigos com as novas tec- nologias digitais, partilhar notícias agradáveis ou confortar os outros. Ajudar proporciona sentimentos de bem-estar a quem é ajudado, porque se sente importante para os outros e, simultaneamente, contribui para o bem-estar de quem for- nece a ajuda. Quando os comportamentos e as atividades a que cada pessoa se entrega ocupam utilmente o tempo e são agradáveis têm um efeito na diminuição no medo e de toda a afetividade negativa.
O último componente é o que se sente, as reações fisioló- gicas desagradáveis. Neste aspeto a capacidade de as modifi- car não é tão eficaz. De qualquer modo podem ser utilizadas técnicas de respiração controlada ou os diversos métodos de relaxação, como a meditação ou o mindfulness. Deve ser sa- lientado que quem começa, numa altura stressante, a prati- car estes procedimentos deve ser avisado que só funcionam quando se está habituado a praticá-los com regularidade. Não é nos períodos difíceis que se consegue a desenvoltura neces-
sária para a sua utilização eficaz. Contudo, a modificação do pensamento e do comportamento tem reflexos positivos na diminuição das sensações fisiológicas desagradáveis.
Podemos, assim, todos estar melhor equipados para lidar com as ameaças psicológicas do coronavírus, a utilizar as va- cinais sociais. Estas previnem eficazmente o aparecimento de medos, ansiedades, tristezas e todo o tipo de mal-estar psicológico que tem a tendência a aparecer e a prolongar-se no tempo. É importante mencionar que as dores emocionais são processadas nas mesmas estruturas cerebrais que as do- res físicas, o que implica que o sofrimento provocado por ambas seja semelhante. Depois deste mau período, é neces- sário continuar a usar a capacidade de regular as emoções e a praticá-la de modo repetido. É indispensável para que haja bem-estar e qualidade de vida. Acima de tudo para deixar- mos de ser escravos das nossas emoções, que estas mandem em nós e que consigamos realizar todos os nossos poten- ciais. Assim, conseguiremos lidar harmoniosamente com as ameaças e incertezas da vida contemporânea. É isto que se chama a inteligência emocional.
* Psicólogo Clínico e da Saúde
Licenciado em psicologia e Doutor em Ciências Biomédicas, especialida- de psicologia. Psicólogo clínico no Hospital Júlio de Matos até 1994. Pro- fessor na Escola de Psicologia e Ciências da Vida. Coordenador clínico da Escola Social O Companheiro. Membro fundador da Associação Portu- guesa de Sexologia Clínica e da Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento, do qual foi antigo presidente. Psicoterapeuta supervi- sor pela Associação Portuguesa de Terapia do Comportamento. Diretor da Clínica Psicológica de Desenvolvimento Humano e do programa de desenvolvimento da Inteligência Emocional, Inteligência Social e da Posi- tividade ao longo da vida, Mente Ativa. Autor de um conjunto vasto de artigos científicos e livros.
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