Page 14 - Boletim Nº 254 da APE
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 CARAS DO PILÃO
 de apanhar alguns pen- durados nas janelas para assaltarem o refei- tório. Conta-nos diver- tida que recentemen- te, serviu um almoço a antigos alunos, e este- ve a falar com um Sr. Aluno, ficou depois a saber quando na co- zinha a chamaram à atenção que afinal aquele Sr. Aluno, era o Chefe do Estado Maior do Exército o General Nunes da Fonse- ca, encolheu os ombros, “que querem, não estava fardado”,
e para todos os efeitos era um Sr. Aluno.
Gosta das coisas bem feitas, diz ela que sempre conside-
rou, que os alunos estavam sempre em primeiro lugar, que tinham que ser tratados com todo o respeito, sem eles, não havia trabalho. E os pais pagavam bem para os ter por ali. Por isso, as travessas tinham que ir para a mesa a preceito, não era uma coisa qualquer, iam com as azeitonas a enfei- tar, a salsa picada e tudo a que tinham direito.
Claro que quando era para o Sr. Diretor e convidados, havia assim umas coisas mais especiais e uma atenção redo- brada.
Fala-nos ainda do Sr. Diretor (Coronel Miranda Soares) que esse sim era qualquer coisa, que ele não a deixava sair e foi ele que a colocou como chefe da cozinha, apesar de no papel não o ser, se ele tivesse ficado, talvez também ficasse ainda mais um aninho ou dois, mas com mais pessoas na cozinha, que a sua saúde já não é o que era...
Está ciente que não lidava diretamente com os alunos, afinal era apenas a cozinheira que se enfiava na cozinha e lhes preparava as refeições, mas mesmo assim há quem se lembre dela e isso deixa-a comovida, há ainda quem por lá passe e ainda lhe pergunte “óooo D. DM ainda está por cá”, durante muitos anos foi a D. DM as iniciais que usava na sua bata.
Ainda sobre o apreço que surpreendentemente desco- briu os alunos lhe têm, conta-nos um dos episódios mais marcantes da sua vida ali no IPE e que lembra com muita emoção. Fez 21 anos em maio passado, um dia de eventos no IPE como tantos outros, e ela teve um enfarte, não fazia a menor ideia do que lhe estava a acontecer, lembra-se de
estar no chão e da aflição dos alunos e de ver alguns a cho- rar. Havia também um Oficial Dia, um Tenente alto, que usa- va óculos escuros, antes mesmo de perder os sentidos, lembra-se de o ver a tirar os óculos e limpar as lágrimas. Até há bem pouco tempo tomava 24 comprimidos por dia, pas- sou agora para 21.
Há coisas pequeninas, que são grandes para a D. Deolin- da, conta-nos, que um aluno num baile de finalistas foi pe- dir a rosa à mãe para lhe entregar, ou o comandante de ba- talhão que há dias passou por lá para se despedir dela e dar-lhe um beijinho e de tantas prendinhas que para muitos são insignificantes e que para ela são momentos grandes e bonitos, e guarda tudo com muito carinho.
Também se lembra do dia que perdeu o irmão, e mesmo assim trabalhou toda a manhã para não deixar os alunos, os colegas e o IPE desamparados, foi uma manhã difícil.
Ou dos dias bons que teve, quando por exemplo ia para a semana de campo (saia de casa de madrugada), foi a pri- meira mulher a ir para a semana de campo, levavam potes de cafés para os miúdos, e por lá até faziam o jantar, e ela que era mãe, não conseguia deixar de cuidar dos alunos. Lembra-se que quando perdiam os talheres, por lhe custar vê-los a comer com as mãos, passava-lhes às escondidas, nem que fosse uma colher.
É uma vida, às vezes esquece-se que não está em casa... tal é o amor e dedicação que tem pelo IPE.
A D. Deolinda está de saída, para um merecido descan- so, para desta vez se dedicar à filha e aos seus dois netos, uma “mulher-guerreira”, pelas suas mãos passaram gera- ções de alunos e alunas, e ela ali na sua cozinha cuidou de todos. Foram 30 anos de dedicação, que merecem sem dú- vida o devido reconhecimento de todos nós os Srs. Alunos e Sras. Alunas.
Despedimo-nos, da D. Deolinda, com a promessa que um destes dias passaría-
mos lá para os seus
lados para um almoço
e com ela a prometer vir sempre que preci- sássemos dela.
D. Deolinda não nos devia ter dito isso, porque quando a sau- dade do seu fabuloso arroz-doce apertar, va- mos buscá-la a casa...
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    12 | Boletim da Associação dos Pupilos do Exército • julho a setembro
“há ainda quem por lá passe e ainda lhe pergunte “Óooo
D. DM ainda está por cá”, durante muitos anos foi a D. DM as iniciais que usava na sua bata.”
“costuma chamar
Srs. Alunos (mesmo os antigos alunos, continuam a ser
Srs. Alunos), nunca teve qualquer problema com eles”







































































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