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CRÓNICAS
CONTINUAÇÃO
a precaridade dos trabalhadores, o desemprego desenfreado, o empo- – Para além de continuarem à margem da fiscalidade os lucros
brecimento vertiginoso, a diminuição drástica dos salários e das das “especulações financeiras” deslocadas significativa-
reformas? mente dos recursos da produção, cerca de 70% das empre-
Utilizam de forma exímia as disparidades entre trabalhadores de sas estarão isentas de taxas de mais-valias e continuam
diferentes países da EU, entre os do norte e centro e os do sul, o que a maioria dos “jogos on-line” por ser taxados. Não se fala
agrava ainda mais as disparidades já existentes dentro das fronteiras disto!
nacionais? Parece que sim.
Torna-se imperioso desmontar as justificações dos inimi- ***
gos do Estado Social. A manipulação nos “media”, encosta-
dos à Banca e às grandes empresas, é tenebrosa e visa A luta pela defesa do Estado Social volta a estar cada vez mais na
captar apoios, ou no mínimo, a passividade, dos cidadãos ordem do dia. Sabemos que em Portugal o Estado Social só chegou
menos informados: com o 25 de Abril e nunca atingiu o patamar da generalidade dos paí-
• Não há gorduras no Estado Social mas sim necessidade de ses da Europa Ocidental.
uma melhor gestão, afastando o compadrio e a corrupção. Como Sabemos que a corrente neoliberal nunca dará viabilidade ao Esta-
se pode aceitar que haja por um lado despedimentos e por outro do Social.
recrutamentos de “boys” com salários de 4.000 a 5.000 euros.??? Sabemos que a Democracia não é viável sem o Estado Social.
Falta um estudo sério de reestruturações sustentáveis e, sobre- Democracia que há muito está sob o ataque dos agentes do grande
tudo, de luta contra o amiguismo e a descarada perversão. Capital. Veja-se como a Constituição é posta em causa porque não
• ”Queremos mais do Estado do que estamos a pagar” – como permite que se realizem as medidas que (o Capital e os neoliberais)
certas vozes afirmam. É uma falácia. A maioria dos portugueses consideram essenciais ao seu projecto político.
tem poucas posses e já contribui acima das suas possibilidades. Urge, assim, quanto antes afastar os neoliberais e as suas persis-
Falta verificar se os verdadeiramente ricos correspondem à tentes tentações de nos esmagarem. Não se poderá desistir desta luta
solidariedade que lhes é exigida e quem é que neste país é de sobrevivência em que se estará envolvido.
considerado “rico”. Se neste contexto europeu , quem ganhe Veja-se o caso premente do ataque aos reformados submetidos,
mensalmente 2000 a 3.000 euros ilíquidos, é considerado “rico”, pelo actual poder, a uma classe de cidadãos à parte. É um exemplo. Só
torna-se evidente a falta de seriedade da análise! pode constatar-se como é atacada e marginalizada uma significativa
• Não será através de P.P.P.s (Parcerias Público Privadas) que se percentagem de portugueses que, com as suas pensões, tem sido
obtêm melhores resultados, como a prática o tem demonstrado amparo de parentes desempregados e de pais de recursos escassos.
na Saúde, na Educação, na Energia, nas Comunicações, nas Que tendo vindo até aqui já a comparticipar nos custos da crise e é
Estradas, etc. Conseguem-se sim maiores encargos para o Esta- agora duplamente espoliada de forma cruel e antidemocrática. Mas não
do e para o cidadão e os bolsos mais cheios para os corruptos podem os reformados pensar que as suas justas reivindicações serão
intervenientes e para os novos donos privados. isoladas das reivindicações em geral dos portugueses: de desemprega-
• A crise da divida, suscitando esta ainda muitas incógnitas sobre dos ou com emprego precário, de públicos ou privados, de jovens ou
os seus titulares e responsáveis, terá sido essencialmente pro- com idade feita, enfim, de todos quantos a neoliberal austeridade tem
vocada pela corrupção, evasão fiscal e por uma gestão danosa e violentamente atingido.”
com total ausência de políticas económicas, sociais, monetárias Confrontados com uma dura batalha de sobrevivência estamos
e fiscais comuns da Europa. Criar nos portugueses um sentimen- todos (os que sofrem) envolvidos e empenhados em acabar com esta
to de culpa “de quem viveu acima das suas possibilidades” é política neoliberal e afastar os seus fautores. Há várias espécies de
uma tentativa desonesta e insere-se numa propaganda de falsas “guerras “para onde nos lançaram certos “experts”, conduzindo-nos
verdades, de obscurantismo e de desinformação. para uma inversão civilizacional (como disse Gomes Canotilho) e
• ”Não há dinheiro” – diz quem governa. Mas este só é procurado regresso a outra forma de escravatura.
junto dos que não conseguem defender-se e dele (dinheiro) Só acabando com a escravatura seremos livres e teremos paz.
até são pouco detentores.Com uma outra política de emprego, A.Lincoln sabia disso há 150 anos.
gerando emprego, gerar-se-ia dinheiro. Depois tem de se taxar Só acabando com estas politicas neoliberais acabará o
devidamente valores que até hoje estão isentos ou são objecto ataque à esmagadora maioria dos cidadãos e respectivas
de taxas mínimas: famílias. e, concomitantemente, cessará o mais violento
– As mais-valias do desenvolvimento tecnológico (que criam ataque, de que há memória, aos aposentados, pensionistas
desemprego) não podem ser objecto de taxação só sobre o e reformados portugueses.
Trabalho. As mais-valias resultantes da modernização terão
de ser igualmente taxadas. Não pode uma fábrica contribuir (Escrito de acordo com a antiga ortografia)
para a Segurança Social com cerca de 20%, da riqueza que
cria, e uma empresa de energia e electricidade contribuir
apenas com 2%! (1) Alguns dados foram obtidos do “Fórum Cidadania pelo Estado Social” promovi-
– A taxação de 0,25% sobre todas as transacções financeiras do pela Associação 25 de Abril,CES-Univ.de Coimbra, CICS/Univ.do Minho, IGOT-Univ.
daria uma contribuição anual de cerca de três mil milhões de de Lisboa e SOCIUS-Univ.Tecn.de Lisboa realizado na Fundação Gulbenkian em19
euros. (1) de Novembro de 2012.
BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO DOS PUPILOS DO EXÉRCITO 15