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CRÓNICAS
PorTUgUeses No orIeNTe
eU, PIlÃo 364 de 60, VaIdoso Me CoNFesso ...
Cândido de azevedo | 19600364
ecordo-me muitas vezes daquelas apimentadas anedotas do Trata-se de uma tese de doutoramento, apenas agora editada. Uma
Rmalandro do Carlinhos na escola primária e que, à sucapa, con- tese que me obrigou a percorrer os espaços da nossa história pela
távamos uns aos outros na “recta da 1ª Companhia” ou pelos cantos Índia, Ceilão (hoje Sri-Lanka), Maldivas, Malásia, China, Japão, Indo-
dos claustros. Recordo-me de uma delas, onde vaidoso, saindo do nésia, Tailândia e Timor. Uma pesquisa de seis anos, que bastas vezes
gabinete da professora, dizia o Carlinhos para os curiosos colegas me marejou os olhos. Uma pesquisa onde procurei fugir aos temas
que o esperavam cá fora, no intervalo: “Nada se perde, fazendo um habituais quando se fala dos portugueses na sua diáspora oriental, isto
pouco de publicidade, ...”. é do comércio, da cristianização e das guerras. Daquele domínio terri-
Tal como o Carlinhos farei o mesmo. Perdoar-me-ão os que me torial caldeado em séculos de convivência, debruçei-me sobre as trocas
lêem, se este modesto artigo tiver alguma falha de humildade, porquan- de influência procurando investigar o percurso lúdico, suas práticas e
to vou falar de algo meu. Hesitei se o deveria fazer ou não. Mas decidi representações, seguindo os caminhos do prazer, descobrindo o lado
fazê-lo. Sei que compreenderão. E sei também que muitos se orgulha- emotivo da vida humana: o jogo e a festa, os divertimentos e o júbilo.
rão, porque afinal foi naquela “Casa tão bela e ridente” que nos é comum, Sim, falei do divertimento do corpo. Enquadrei tal prática, como objec-
que, como tantos outros, aprendi ainda criança a dedicar-me ao “estu- to e conteúdo onde o corpo é o receptor e transmissor, no exotismo e
do e ao trabalho producente ...”. mistério do rosto daqueles antigos territórios portugueses do Oriente:
Então aqui vai. das coisas e gentes, costumes e tradições, mitos e crenças. Assim,
Aqui nesta gélida e poluída Pequim, num certo dia de Dezembro obrigado fui a falar do convívio, da compreensão, da amizade, da tole-
passado, recebo uma carta registada. Estranhei. Abri e começei a ler. rância, da solidariedade, do amor, da criatividade, da inclusão, da
Após as saudações habituais dizia a referida carta “... assim, temos a harmonia, da saudade, da justiça. Porque “por mares nunca dantes
honra de comunicar V. Exa. que a sua obra ..., foi considerada pela navegados e a caminho dos trópicos, ligamos os locais mais distantes,
Comissão de Avaliação, de elevado valor académico pelo que foi deci- demos a conhecer a diversidade da raça humana, procriámos e gerámos
dido atribuir a V. Exa. o Prémio de Distinção, na categoria de livro. .....”. a globalização” como sempre, e bem, refere Jorge Bento.
Mais me convidava a estar presente à cerimónia da entrega dos prémios Jorge Bento é um distinto Professor Catedrático, português atento
em Macau. e amante assumido de uma associação mais íntima de Portugal com o
Custou-me a acreditar. Já nem me lembrava que me inscrevera em mundo da lusofonia – com orgulho refere Fernando Pessoa quando
tal concurso literário no ano anterior e por insistência da funcionária assumiu “a minha Pátria é a da Língua Portuguesa” –. Este brilhante
do Secretariado da Comissão Técnica e Pedagógica do Instituto Poli- Professor assim se referiu ao meu livro, agora premiado, quando o
técnico de Macau, entidade que acompanhou a edição do livro. Emo- prefaciou “...Este livro convida-nos a uma viagem. Uma viagem a
cionei-me. Era um dos vencedores num concurso para o “mundo chinês”, efectuar pelos diversos itinerários geográficos, culturais e sociais em
um mundo de muitos e muitos milhões de pessoas ... que se cumpriram a diáspora, a errância e a peregrinação portuguesas
Por me encontrar destacado na Universidade de Pequim, não pude no Oriente. Navegando através do tempo, apresenta mosaicos revela-
deslocar-me à cerimónia da entrega dos Prémios. Nova carta, acom - dores dos escolhos, dos possíveis e impossíveis da miscigenação
panhando um pequeno volume, referindo ter sido depositado na minha lúdica, como espelho das diferenças e assimilações no contexto mais
conta o prémio pecuniário correspondente. O volume que a acom- abrangente. Até que surge o desporto, a facilitar o empreendimento
panhava era uma belíssima e sedosa capa de tecido vermelho, e a nunca antes conseguido, pelo menos na sua maior parte.
letras douradas assim referia em caracteres chineses: Prémio Obra Esta obra encerra também uma panóplia de abordagens: de antro-
Excelente. No interior, um bonito certificado em chinês, com a sua pologia, de etnologia, de sociologia, de política e de história. E tudo
tradução: Certificamos que o autor do livro O Lúdico na História do misturado num caldo de profundo e compenetrado sabor humanista.
Oriente Português, Cândido Ramiro Filomeno do Carmo Azevedo, Por isso mesmo a leitura alimenta a sofreguidão de todos os palada -
ganhou a 3ª edicão do prémio Obra Excelente concedido pelas se - res e oferece-nos um conhecimento do contexto oriental e das suas
guintes Organizacões: Fundacão Macau, Revista das Ciências Sociais gentes.
da China e União Académica das Ciências Sociais da Província de Por tudo isto, o livro e o seu autor merecem o nosso aplauso,
Cantão. apreço e reconhecimento; merecem, sobremaneira, que os acompanhe-
Serve este diploma não só para premiar mas também encorajar mos com atenção desperta e consciência inquieta na esplendorosa
investigacão futura. viagem que nos proporcionam. ....”
Novembro, 2012. Nº. certidão 2012-A.24 Os chineses, porque também refiro a nossa diáspora pelos mares
Vaidoso! dirão alguns. Certamente. Outros mais compreensíveis da China, aplaudiram e reconheceram. Em Portugal, ... passou ao lado!
estarão agora, com interesse, a interrogarem-se de que obra se tratará
e a que temática se referirá. Pequim, 24 de Fevereiro de 2013
16 BOLETIM DA ASSOCIAÇÃO DOS PUPILOS DO EXÉRCITO